A Câmara de Vereadores de Simões Filho vive um momento ímpar, quem sabe até histórico por protagonizar, em pleno século XXI, um capítulo de censura explicita, onde a Casa do Povo se tornou “o local da ditadura” e a voz do eleitor deu lugar ao autoritarismo daqueles que impõem o poder.
Ao menos essa foi a sensação de quem acompanhou as duas ultimas sessões no legislativo simõesfilhense e ouviu o presidente da Casa, em alto e bom tom dizer que haviam assuntos muito mais importantes a serem tratados do que a vinda de um “lixão” para cidade.
Lixão esse que comprometerá as águas do aquífero do Vale do Itamboatá, que são responsáveis pelo abastecimento de 40% de toda a Região Metropolitana de Salvador, através das afluentes dos rios Joanes e Ipitanga, e ainda colocará em risco dezenas de espécies sob ameaça de extinção, que vivem no santuário da mata atlântica situado no local.
Além da atitude altamente inconveniente do presidente, intrigante também foi ouvir alguns dos edis partindo em defesa do prefeito Diógenes Tolentino, em virtude de uma licença provisória liberada no período de transição entre a gestão atual e a anterior, como se o alcaide não tivesse autonomia para revogar a permissão ou simplesmente não tivesse nenhuma responsabilidade sobre o que é prejudicial ao desenvolvimento da cidade, no que se refere às questões ambientais.
Outro fato bastante inusitado foi ouvir o líder do governo, vereador Neco Almeida chamar uma ativista social engajada nas lutas em favor do meio ambiente de mentirosa e mal educada, pelo simples fato da cidadã questionar a omissão do prefeito Dinha em revogar a tal licença.
Apesar da omissão da maioria dos edis e das ações constantes de ataques e retaliações aos parlamentares que se mantém em defesa do povo, a luta contra a instalação do aterro sanitário gerenciado pela empresa Naturalle em Simões Filho está longe de chegar ao fim. Isso é o que garante o vereador e líder da bancada de oposição, Sandro Moreira (PSL).
Na tarde desta quinta-feira (09/05), o vereador protocolou um ofício junto ao presidente da Câmara, com cópia autenticada à Comissão de Meio Ambiente solicitando Audiência Pública em caráter de Urgência/Urgentíssima, a fim de discutir a questão e assim chegar a um denominador comum.
De acordo com Sandro, já que durante as sessões a mesa diretora manipula as discussões, de modo que, sempre que o assunto do aterro sanitário é tocado, os microfones são desligados e a fala é interrompida, nada mais justo do que mobilizar aqueles que de fato estão interessados em resolver o problema para discutir a situação em uma audiência democrática e aberta ao público.
Segundo o edil, um dossiê com documentos ligados aos diversos órgãos de competências inerentes ao meio ambiente está sendo preparado para combater a ação da prefeitura, inclusive junto ao Ministério Público.
“Existem aqui os pareceres do INEMA, do Ministério Público, do Governo do Estado, do Conselho Regional de Agricultura da Bahia e todos esses documentos não são à toa não. Eu estou aqui em defesa do povo, não de vereador nenhum, nem do prefeito. Eu estou aqui legitimando uma defesa que me foi outorgada pelo voto popular”, disse Moreira.
Ainda conforme o vereador, tanto ele quanto os movimentos de defesa do meio ambiente vão levar essa batalha até a última instância impedindo que, uma empresa desse porte contamine os mananciais de água da cidade por puro interesse comercial.
“Eu estou aqui defendendo as águas da nossa cidade e da Região Metropolitana, que não pode ser sucumbida por uma empresa marginal que veio para Simões Filho. Por que não vai botar esse lixão em outro lugar? Em Simões Filho não”, finalizou.